O que acontece quando duas jornalistas decidem empreender? No caso da Joana Treptow e da Camila Corsini, essa decisão criou o Infoca, um laboratório de jornalismo 100% digital e feito por mulheres.
A ideia de fundar um veículo de comunicação surgiu em 2020, depois de uma troca de mensagens pelas redes sociais. Na época, as duas já haviam trabalhado juntas, mas não eram próximas.
“Eu conheci a Joana na Band, em 2018, quando eu era estagiária e ela era repórter. Na época, nós só nos seguíamos nas redes, não éramos amigas. Em setembro de 2020, eu já estava formada e trabalhando em outro lugar, e ela postou que estava com uma ideia de criar um veículo de comunicação. E eu só mandei: não sei o que é, mas conte comigo. Daquele dia em diante a gente não passou um dia sequer sem falar no Infoca”, conta Camila.
Hoje, o Infoca conta com 20 mulheres na sua equipe: 14 “focas”, como são chamadas as jornalistas em formação ou recém-formadas, duas editoras-chefes (Camila e Joana), três editoras-executivas e uma analista de tráfego.
A principal plataforma usada pelo lab é o Instagram. O Infoca também tem contas no Twitter, no Facebook e no LinkedIn, embora não esteja tão presente nessas redes.
“O Instagram é uma das redes sociais mais populares. A nossa intenção é levar conteúdo de uma forma leve, didática e acessível. A pessoa estar rolando o feed e dar de cara com algo que ela queira ler e entenda sem delongas – que não tenha palavras difíceis, termos jurídicos, textão. A gente sempre fala: meninas, escrevam como vocês estivessem contando essa notícia para seus avós”, explica Camila. Aqui na Fluir, nós concordamos com isso. Sempre lembramos que quanto mais descomplicada for a linguagem, melhor. Frases curtas e objetivas ajudam a evitar erros e dão mais ritmo para a leitura.
Para o Infoca, estar no digital é mais do que uma estratégia para ganhar audiência. É, também, um requisito para conectar toda a equipe. Segundo Camila, “a escolha pela plataforma digital foi praticamente intuitiva. Não teríamos outra maneira de reunir meninas de todo o Brasil, fora que a presença da Joana nas redes sociais já era bem forte. Além disso, acreditamos que o futuro da comunicação está no digital.”
Um dos maiores desafios para quem trabalha com comunicação no digital é o combate às fakes news. Quando o assunto é jornalismo, então, é preciso intensificar a produção de conteúdo voltada para a checagem de dados e informações.
“O jornalismo das redes sociais ainda é muito questionado e visto sem credibilidade. A gente tenta quebrar essa barreira, mas até os algoritmos não ajudam muito. Prezamos muito pela checagem de dados, de informação, e que a nossa máxima precisa ser falar sempre a verdade – ainda que não vá ao encontro de nossas crenças pessoais e políticas. O jornalismo precisa ser dedo na ferida, precisa incomodar e questionar”, ressalta Camila, ao responder sobre as dificuldades de fazer jornalismo no digital.
Para resolver a distância entre as integrantes da equipe e a falta de um escritório fixo, o Infoca tem vários grupos de mensagens. Por lá, as gurias trocam ideias de pautas e conversam sobre como cada assunto faz sentido com o perfil do público-alvo.
“Temos um grupo de sugestão de pauta, onde as focas sugerem os temas, as reportagens, e outro de revisão. Ao longo de todo o processo tentamos criar nelas esse senso de “é relevante? É algo regional ou nacional? Faz sentido para a minha audiência?” – questionamentos que fazem parte da rotina de um jornalista nas redações”, explica Camila. Ela ainda acrescenta que o Infoca tem planos para criar incentivos de qualificação profissional, para que estagiárias tenham mais chances de conquistar um emprego efetivo.
“Para os próximos meses, estamos estudando uma “jornada do Infoca”, em que as meninas vão ter uma porta de entrada e saída mais focada na profissionalização delas. Ao longo do último ano, notamos que muitas delas sentem falta da prática, do contato com o mercado, e isso dificulta na hora de encontrar um estágio. Nosso objetivo é qualificá-las e fazer essa ponte”, indica.
Para finalizar, perguntamos para as gurias do Infoca qual dica elas podem compartilhar com quem está com medo de investir no digital. A resposta vai bem ao encontro do que já comentamos bastante na Fluir:
“Ir sem medo. O digital proporciona inúmeras possibilidades e é um eterno teste do “dá ou não dá certo para mim”. Não existe uma receita do sucesso. Tenha em mente seus objetivos, cative o seu público, tenha cores e logos criativos que tornem seu conteúdo marcante. A tecnologia precisa ser sua aliada, mas não faz tudo sozinha”, destacou Camila.
Dica certeira, hein? Se tivéssemos que resumir um conselho para quem quer começar, diríamos para apostar no teu conhecimento e nas ferramentas que tu domina, sempre com um olhar voltado para as particularidades do teu nicho.